Minha rua era tão minha
Em sua simplicidade.
Não sei de onde vinha
Mas ia para a cidade.
Com suas pedras redondas
E duas magras calçadas.
Não tinha praia nem ondas
Mas como tinha enxurradas.
Era alegre, era risonha.
Tinha orquestra de pardais
E a cantilena enfadonha
De mil pregações matinais.
Ali cresci me fiz homem
E minha rua coitada...
Qual as mães que se consomem
Foi tudo sem quere nada.
Foi pista de meus brinquedos
De jogos e correrias.
Foi dona de meus segredos
Viu tristezas, alegrias...
Viu meus passos imprecisos
Viu-me garoto traquinas.
E me viu trocar sorrisos
Nas rondas pelas esquinas.
Viu-me também certo dia
Sair de lá, nem sei quando.
Por fora sei que sorria
Por dentro estava chorando.
Guardei porem na lembrança
Aquele encanto que tinha.
A rua em que fui criança
A rua que foi tão minha.
De Manoel Bandeira